quinta-feira, 17 de março de 2011

A INDUSTRIA

A assinatura por Portugal do Tratado de Methuen, em 1703, demonstra bem o histórico desinteresse nacional pela actividade industrial. Desde sempre a industria portuguesa sofreu de faltas de incentivo, de apoio e de protecção por parte do Estado. A industria conserveira, que ao longo de décadas produziu o suficiente para o mercado interno e para a exportação, praticamente encontra-se extinta, apesar de Portugal continuar a dispor da maior – e talvez mais rica – zona económica exclusiva da Europa. Mais uma vez, a falta de competitividade da industria portuguesa relativamente à de outros países, que conseguem produzir mais com menos custos, praticando preços mais baixos, levou ao encerramento dessas unidades fabris. Portugal sempre investiu pouco na modernização da sua industria e ainda menos na investigação.

Hoje, as grandes industrias portuguesas, na realidade são estrangeiras, salvo raras excepções. O futuro industrial do país está dependente do investimento que as grandes industrias internacionais possam fazer em Portugal.

O nosso país tem valores intelectuais que não são eficazmente aproveitados pela industria nacional. Portugal, impossibilitado de concorrer a nível mundial com as industrias já existentes tem que investir mais na investigação e no apoio de idéias revolucionárias, produzindo novos produtos e dando um contributo à evolução de toda a humanidade. Sem esse investimento nos nossos valores, ao país resta aguardar a caridade de outros, que poderão abrir industrias no nosso país em troca de uma política de baixos salários ou de baixos custos ao nível do investimento inicial. Deste modo, sem uma industria própria, estaremos sempre sujeitos à boa vontade das empresas estrangeiras e dos mercados internacionais.

O nosso país tem que apoiar mais as iniciativas privadas nacionais no que se refere ao investimento no sector industrial. Tem que proteger as produções nacionais relativamente às de outros países, principalmente de fora do espaço comum europeu, se necessário for, aumentando os impostos sobre as importações de produtos que sejam produzidos pelas industrias portuguesas. Só dessa forma, sem paternalismos, mas com sentido nacional, Portugal poderá criar condições para ter uma industria mais forte e competitiva.

A exploração eficaz da sua zona económica exclusiva – que a Espanha já pretende fazer, invadindo-a – poderá possibilitar a revalorização e a viabilização económica da industria conserveira, que poderá apostar na modernização das suas instalações e equipamentos, de forma a se tornar mais competitiva.

A industria do calçado e dos têxteis, de reconhecida qualidade a nível internacional, sofre com o aumento da competitividade vinda dos países asiáticos e que invadem o nosso próprio mercado. Só com um apoio sério do Estado essas industrias poderão voltar a ser competitivas. Com um apoio sério ao nível do controlo da qualidade e da divulgação dessa mesma qualidade nos mercados internacionais; com a atribuição de alguns benefícios fiscais e linhas de crédito especiais que possibilitem um aumento da produção com custos mais baixos, aumentando a sua competitividade a nível mundial.

A industria naval, hoje já quase esquecida, deveria ser reabilitada, aproveitando as condições geográficas e naturais do país. Uma adequada formação profissional poderia estar na base dessa reabilitação, melhorando-se a qualidade das embarcações construídas e ou reparadas, apostando-se mais na qualidade do que no factor preço como base de competitividade.

A industria do papel e da cortiça, está bastante dependente de factores agrícolas, como as florestas e a plantação de sobreiros. Uma maior preservação da matéria prima, aliada ao seu aumento, poderia possibilitar uma maior produção, também com vista aos mercados internacionais. Um aumento das matérias primas disponíveis, pressupõe uma redução dos preços e um custo de produção mais baixo e mais competitivo.

Uma política de baixos preços da energia para a industria, tal como uma diminuição dos impostos que recaem sobre os combustíveis – que possibilitariam uma quebra acentuada nos preços – tornaria, sem duvida, a industria em Portugal mais atractiva para os investidores nacionais e estrangeiros. A quebra das receitas fiscais por parte dos combustíveis, poderia ser compensada com um aumento das receitas vindas do IVA e dos impostos sobre os rendimentos. Quando é o futuro económico de Portugal que está em causa, todas as medidas que o possam tornar mais competitivo em termos mundiais serão bem vindas, desde que não sejam feitas à custa dos trabalhadores e do ambiente.

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