quinta-feira, 17 de março de 2011

O TURISMO

Portugal é um país com fortes potencialidades turísticas, mas muito mal aproveitadas. Todo o tipo de turismo, desde o de montanha ao da praia, passando pelo cultural, desportivo ou simplesmente de lazer, pode ser praticado no nosso país. No entanto há um desleixo nacional relativamente à criação de atrativos ao turismo e à publicidade do turismo em Portugal. Onde há um monumento nacional digno de visita, crescem lojas e estabelecimentos ligados ao turismo à sua volta, desejosos de receberem os turistas que visitam esses monumentos, mas sem se darem ao trabalho de atraí-los. São inúmeros os monumentos nacionais que se apresentam descuidados ou em ruínas, são muitos os que estão fechados ao público e outros tantos que estão votados ao abandono sem que as próprias populações locais saibam da sua existência.

No entanto, voltando à situação dos monumentos que são conhecidos, estão recuperados ou tratados e abertos ao público, na esmagadora maioria dos casos o ambiente envolvente está degradado ou imundo, os acessos são terríveis ou não estão sinalizados, os estabelecimentos comerciais não são atrativos ou não vendem artigos dessa região e de qualidade. Uma vez dentro dos monumentos, não há qualquer alusão à sua história nem existe uma chamada de atenção para certos pormenores que acabam por passar completamente desapercebidos. Se, nos casos em que a entrada é livre, essa situação é tolerável, naqueles em que a entrada é paga poderá ser considerada inadmissível. Nesta situação, o turista pode ir uma vez a esse local, mas dificilmente regressará.

Além da conjuntura internacional desfavorável ao turismo – crise económica generalizada e aumento da insegurança – a falta de cuidado com o turismo e os turistas são um factor de estagnação do sector, que cresceu desmesuradamente sobre um penhasco oco e movediço.

A situação que foi apresentada para a questão dos monumentos, também acontece, por exemplo, no Algarve, que tem um turismo virado para as praias e o mar. Nesta região cresceram hotéis e edifícios monstruosos; não houve qualquer planificação – salvo casos raros e de sucesso, como Vilamoura ou a Quinta do Lago –; o serviço, em muitos casos – também há excepção – não é o melhor; as vias de comunicação são medonhas; os locais a visitar não estão devidamente sinalizados; não há incentivos para que turistas que se encontram numa determinada zona visitem toda a região, nomeadamente no que se refere ao interior; os preços, quando comparados aos de outros destinos que oferecem igual gama de produtos são demasiadamente elevados. No Algarve, apostou-se no turismo de massas, aquele que tem menos poder de compra e que está mais vulnerável às crises económicas e às questões de insegurança. A questão do Algarve é um espelho claro da forma como o país é construído, a pensar apenas no presente e nos interesses do presente, copiando-se modelos de além fronteiras – neste caso do sul de Espanha –, que a longo prazo torna-se mais uma fonte de problemas de difícil solução. Para o afastamento do turismo da região algarvia, não contribui apenas a sua descaracterização e o mau aproveitamento das riquezas naturais e patrimoniais que tem para oferecer, mas também o mau planeamento do serviço que é oferecido aos turistas. É imperdoável que um turista inglês perca mais tempo a ir do Aeroporto de Faro a um hotel da cidade de Lagos, do que levou para se deslocar da sua casa ao Algarve... Mas isto acontece com muita freqüência e com consequências irreparáveis em termos de futuro para o turismo. Neste aspecto, há a necessidade de os hoteleiros e as agencias de viagens fazerem a sua concorrência na captação de clientes, mas passar a agir de uma forma mais solidária entre si quando esses turistas chegam a Portugal. Em vez de se fazer um agrupamento de turistas por agencias de viagens ou grupos hoteleiros, que obrigam um turista que pretende ir para Lagos a passar por dúzias de hotéis de diferentes localidades até chegar ao seu destino, esse agrupamento deveria ser feito por localidades, ainda que as agencias e os grupos hoteleiros fossem concorrentes. Com essa medida diminuiria para menos de metade o tempo de deslocações, o turista sentir-se-ia melhor servido e ganharia o turismo.

O Algarve tem que definir de uma vez por todas qual o tipo de turismo em que pretende apostar. Se quiser investir no turismo de massas, tem que prestar mais serviços, nomeadamente no aspecto recreativo e de ocupação de tempos livres e baixar os preços, para se tornar competitivo relativamente, por exemplo, à Espanha; se pretende um turismo de qualidade, tem que investir mais na qualidade, criando destinos turísticos de luxo e com serviços a condizer, nomeadamente no que se refere à deslocação dos turistas pela região; se pretende um turismo cultural, tem que fazer um investimento profundo na recuperação dos seus monumentos e da paisagem no seu todo; se pretende não tomar qualquer decisão e dar tempo ao tempo para ver o que nos traz o futuro, não precisa de fazer mais nada além de esperar a morte...

Como algarvio e apaixonado pela região, não poderei deixar de apresentar idéias ao nível do turismo para o Algarve, independentemente da sua viabilidade económica ou das decisões que quem tem o poder de decidir ao nível do turismo poderá tomar para o futuro:

O TURISMO NO ALGARVE

O Algarve encontra-se dividido em três zonas distintas, que poderão possibilitar três tipos de turismo diferentes: Barlavento, Sotavento e Serra.

Ao nível do Barlavento, o investimento realizado ao longo dos últimos anos apenas permite a exploração turística com viabilidade para o turismo de massas. Assim, cada localidade poderia assumir um determinado papel mais especifico que, no conjunto, possibilitaria um maior intercâmbio entre os turistas fixados nos vários municípios dessa sub-região e a melhoria do turismo no seu todo. Assim, nos casos de:

Albufeira, com a sua vida nocturna e a beleza das suas praias, poderá assumir o papel de capital do turismo de massas da juventude, apostando na criação de infraestruturas para acolher essa camada social, não só no que se refere ao divertimento nocturno, como com a criação de festivais de música mais moderna, construção de salas de espectáculo, locais para a prática das mais variadas modalidades desportivas, salas de exposições, mostras e exposições tecnológicas, locais para a prática de desportos radicais e todo o tipo de investimentos dedicados à juventude. Nesta área poderiam ser criados mais parques de campismo e construídas mais pousadas e hotéis de maiores dimensões com uma qualidade média e com um preço mais acessível.

Silves é uma cidade que já se encontra mais próxima da serra, mas que tem uma freguesia junta ao mar Armação de Pêra. Deste modo, este concelho poderia fazer um investimento específico em duas áreas distintas, o do turismo de massas mais ligado ao aspecto histórico-cultural na sede do concelho e o do turismo de massas, numa vertente mais nacional, para a sua zona marítima. Na área da sede do concelho, deveriam ser dada incentivos para a construção de hotéis, residenciais e pousadas, com um qualidade superior, uma vez que o turismo que pretende receber é, em média, de uma idade mais avançada e com maior poder de compra. A cidade de Silves tem-se mostrado capaz de preservar o seu património histórico e cultural, tendo um castelo devidamente recuperado, uma zona histórica que mantém as suas características do passado, uma Sé com vários estilos arquitectónicos, um museu muito bem conseguido, apesar de a riqueza arqueológica da região possibilitar a exposição de muitos mais artefactos, um espaço de lazer que está ao nível dos melhores da Europa, na Fábrica do Inglês e uma paisagem rural tipicamente algarvia nas aldeias em seu redor. O investimento no turismo em Silves, deve ser feito numa lógica anual e não apenas a pensar nos meses de Verão. O clima é ameno todo o ano e possibilita a prática do turismo mais virado para a cultura ao longo do Inverno. No entanto, a cidade poderia investir mais na sua própria divulgação em termos turísticos, criar exposições permanentes sobre os seus aspectos históricos e culturais, principalmente no que se refere ao período de ocupação árabe, apostar na construção de cinemas e teatros com condições para a mostra de espectáculos de nível médio/superior e voltar-se para a zona do rio, procedendo à sua limpeza e procurando, em conjunto com as restantes autarquias do Barlavento, criar condições para a sua navegabilidade. A subida do Rio Arade poderia ser uma forma de atracção turística sem paralelo nesta sub-região algarvia, pelo seu simbolismo histórico e pela beleza das suas margens. Armação de Pêra é o exemplo de uma localidade que cresceu só a pensar na riqueza que o Sol e a praia podem proporcionar, investindo claramente para um turismo de massas de baixos recursos. O crescimento da localidade fez-se de uma forma tão exagerada e à toa que, hoje, a sua vocação não pode ser outra para além de acolher o turismo nacional, com recursos médios, mas com as suas férias reduzidas a pouco mais de um mês por ano. Felizmente, no caso de Armação de Pêra, os edifícios aí construídos não foram hotéis ou aparthotéis, mas edifícios residências, onde aqueles que aí pretendem fazer turismo compraram os seus apartamentos. Hoje, porém, são muitos os que se mostram descontentes com o investimento que fizeram e pretendem mudar o seu destino de férias. O Município de Silves tem que investir em Armação de Pêra ao nível dos acessos viários e nos locais de estacionamento, fomentar o comércio e tentar atrair algum turismo de massas através da publicidade, para fazer face à desertificação que se verifica nessa localidade durante praticamente todo o inverno.

Lagoa tem sido um concelho que tem demonstrado alguma visão futura em termos de turismo. Com a sua sede do concelho mais no interior, tem sabido explorar a sua orla marítima de forma a receber um turismo de melhor qualidade, virado tanto para o mercado nacional como para o estrangeiro e apostando muito no que poderá ser considerado “turismo residencial” – cidadãos estrangeiros que adquiriam casa própria no concelho e aí vivem a maior parte do ano, ainda que não possam ser considerados imigrantes, uma vez que não exercem qualquer actividade no nosso país -. Contudo, Lagoa deve investir mais na apresentação e na limpeza, principalmente nos acessos às localidades que fazem parte do seu concelho, arranjando as estradas e as suas bermas, sinalizando melhor as vias de comunicação, iluminando melhor os caminhos principais e publicitando as suas paisagens em Portugal e além fronteiras. Na sede do concelho, Lagoa poderia investir mais no magnífico espaço de feiras e exposições que tem, fazendo exposições de melhor qualidade ao longo de todo o ano e não apenas no Verão.

Portimão é a cidade do Barlavento. Apesar de ter crescido fundamentalmente graças ao turismo, não pode continuar a ver nessa actividade a sua principal fonte de rendimentos, a menos que faça uma alteração profundíssima na sua organização. Para que Portimão – núcleo urbano – pudesse voltar a ser um destino turístico, a cidade teria que investir muito na recuperação do seu centro histórico. Uma coisa é uma cidade possuir monumentos e usá-los para cativar o turismo, outra coisa bem diferente é possuir ruínas e casas a cair, que mostram um cenário degradado próprio de uma cidade sem vocação ou objectivos turísticos. Mas, quando se diz “recuperação do centro histórico”, pretende-se dizer recuperar o que lá está, tal como está e não deitar a baixo para construir um edifício novo... Qualquer turista que se desloque ao nosso país pretende ver algo de diferente e típico e não construções novas, a menos que a sua arquitectura seja vanguardista o que, no caso de Portimão, não tem acontecido. Para que a cidade volte a ser um destino turístico, também o seu comércio tem que ser modernizado, as ruas não podem ter o aspecto de obras inacabadas, a iluminação tem que ser maior, as ruas devem estar devidamente sinalizadas, bem os locais a visitar e o pouco património histórico da cidade deve estar recuperado e aberto ao público. No entanto, para a cidade de Portimão, há sempre a hipótese – mais viável, diga-se – de se tornar um centro cosmopolita por excelência. Não podendo viver exclusivamente do turismo, a cidade tem que passar a explorar melhor as suas capacidades de gerar riqueza por si. Com uma população residente elevado e um nível de crescimento ao nível de muitas outras cidades não turísticas do país, Portimão tem que apostar nos seus residentes e nos dos Municípios vizinhos, tornando-se a capital comercial, educacional e de serviços de todo o Barlavento algarvio. Portimão tem todas as condições para ser uma cidade piloto para a colocação em prática da proposta apresentada no capítulo do emprego. Não podendo apostar com viabilidade no turismo tem que apostar no aumento da população, de uma forma permanente ou temporária. Tem que apostar na abertura de uma Universidade pública de qualidade, com bons cursos e que possa receber um considerável número de alunos; deve apostar no alargamento dos serviços que presta à população, nomeadamente apoiando a fixação de consulados ou gabinetes de apoio a cidadãos estrangeiros que se desloquem em maior número para esta sub-região algarvia; deve negociar junto do Governo central uma descentralização dos serviços que se encontram sediados em Faro, para que a população dos concelhos visinhos possam aqui resolver os seus problemas; deve apostar na fixação no concelho de industrias não poluentes de forma a possibilitar um maior número de postos de trabalho; deve possibilitar a construção no concelho de mais e melhores grandes superfícies, de forma a alargar a oferta de produtos, não só para os cidadãos nacionais como para os estrangeiros; deve investir na criação de espaços culturais e desportivos que honrem a cidade e realcem a sua imagem a nível nacional e internacional; deve apoiar a construção de edifícios com uma arquitectura mais vanguardista, em vez das tradicionais “caixas de fósforo”; deve abrir o seu porto, que está acabado há muitos anos mas inoperacional, se necessário for com o recurso ao projecto antigo e polémico da criação de uma carreira de barcos a ligar Portimão a uma das cidades do Norte de África; deve pensar melhor o seu plano rodoviário, nomeadamente no que se refere aos acessos.

Já no que se refere ao concelho de Portimão no seu todo, há a possibilidade de melhoramento da sua função turística. A Praia da Rocha desde sempre foi pensada para o turismo de massas – qual Torremolinos Portuguesa -. No entanto, contrariamente à cidade que lhe serviu de inspiração, começou a praticar uma política de altos preços e baixa qualidade – ao princípio – e hoje, para se tornar competitiva, teve que estagnar ou reduzir nos preços e melhorar a qualidade, com custos de investimento muito mais elevados e rentabilidade muito mais baixa. Além disso, a cidade, além das praias e de um comércio local antiquado pouco mais tem a oferecer aos turistas, sendo necessário investir em espaços de lazer, desportivos, de animação e culturais. Também nos acessos e no estacionamento há lacunas e carências graves e, em alguns casos, inadmissíveis. A Praia da Rocha deve apostar ainda numa melhor iluminação, na limpeza e apresentação das ruas, na limpeza e arranjo das falésias e, porque não, no melhoramento da imagem das praias, ao nível dos estabelecimentos comerciais de apoio e do próprio areal. A Praia do Vau é outra zona turística da cidade de Portimão que poderia ter sido melhor explorada, com vista a um turismo de qualidade e, hoje, está completamente descaracterizada e sem qualquer potencial atractivo. Já Alvor, tirando o cancro urbanístico que é a conjunto de torres da Torralta, tem-se vindo a desenvolver, possibilitando o alojamento de um turismo de melhor qualidade que, no entanto, não tem sido devidamente encaminhado para a cidade.

Por muito inviável e contestável que possa ser esta idéia, a solução turística para certas zonas do Algarve passa pela destruição de muitas construções mal planeadas, construídas fundamentalmente para satisfazer os interesses de alguns e com prejuízos irreparáveis para muitos. A Praia da Rocha é uma dessas zonas, o mesmo acontecendo com Armação de Pêra ou Quarteira, que têm um peso negativo na imagem da região a nível Mundial e que, na verdade, só prejudicam o turismo nacional no seu todo. A construção em altura não é má para uma cidade que se quer cosmopolita e tem a necessidade de albergar um maior número de gente, mas é péssima para uma região que se quer turística e com um mínimo de qualidade, a menos que a sua arquitectura apresente algo de novo e inovador, que se torne por si só uma atracção turística.

Lagos, talvez por estar mais distante do ponto de chegada do turismo e ter piores acessos, tem sido poupada ao crescimento inadequado de outros destinos turísticos. Lagos soube poupar o seu centro histórico da construção em altura própria de uma cidade em crescimento, recuperou muitos dos seus monumentos e apoiou a abertura do seu comércio além do horário tradicional. Isto possibilitou a fixação de um turismo de maior qualidade nessa localidade. No entanto, para esta cidade, há um problema que prejudica um maior desenvolvimento em termos turísticos, que é o da sua situação periférica e das más acessibilidades. A cidade deveria investir mais nos seus acessos e no arranjo das suas entradas, bem como na melhor sinalização dos seus monumentos.

Vila do Bispo é a região marítima do Barlavento Algarvio menos explorada em termos turísticos. Sendo uma zona muito periférica e de acesso difícil, conseguiu manter-se virgem aos maus investimentos turísticos da região, podendo agora investir de uma forma mais consciente e com menos erros. Vila do Bispo tem tudo para apostar num turismo de qualidade, não de massas, mas mais familiar. As suas praias pequenas e abrigadas, desde que devidamente assinaladas e com acessos melhorados, poderiam servir de apoio à construção de unidades hoteleiras de reduzidas dimensões e de qualidade superior, como pequenos hotéis e pequenos aldeamentos turísticos, próprios para quem pretende repousar. Já região de Sagres, “onde a Europa acaba e o mar começa” pelo seu simbolismo histórico e geográfico, poderia haver lugar à construção de uma unidade de maiores dimensões e de luxo, que reunisse todas as condições para a realização de congressos, encontros, reuniões e cimeiras internacionais.

O Sotavento Algarvio tem apostado mais num turismo de melhor qualidade que, para seu bem e para bem do turismo no Algarve no seu todo, deve ser preservado.

Loulé, um dos maiores concelhos do país, tem sabido tirar proveito da sua situação geográfica e do seu património arquitectónico e natural para acolher um turismo de qualidade. Vilamoura é o exemplo de como deveriam ser todas as cidades que pretendem viver do turismo. As suas estradas e ruas bem arranjadas e assinaladas, permitem uma deslocação confortável e agradável; a sua iluminação inspira uma sensação de segurança aos transeuntes; os seus parques de estacionamento gratuitos e devidamente sinalizados, evitam o stress habitual na maioria das cidades de procurar um sitio para deixar o carro; a arquitectura dos seus edifícios é, por si só, um motivo de atracção turística, apesar de também aqui se ter optado por uma construção em altura. Evitar que a especulação imobiliária e a busca de um maior lucro num período mais curto de tempo destrua parte desta harmonia com construções aberrantes e o nascimento de zonas habitacionais e comerciais de menor qualidade, deve ser o objectivo da autarquia Louletana. Afinal, em Loulé, também existe o mau exemplo de Quarteira, que permitiu uma construção desordenada e degradante à vista, que é mais factor de afastamento do que de atracção turística. No seu todo, Quarteira chega a prejudicar a boa imagem de Vilamoura, que fica mesmo ao seu lado. Evitar a construção de mais edifícios e zonas residenciais semelhantes aos que existem nessa localidade deve ser outro objectivo de Loulé no seu todo. A região de Vale do Lobo e Quinta do Lago são outro exemplo bem conseguido no concelho de Loulé com vista ao acolhimento de um turismo de qualidade. Melhorar os seus acessos deverá ser uma prioridade da autarquia.

Também no interior, Loulé tem sabido apostar no turismo, com a preservação de localidades típicas e a sua divulgação em termos turísticos. Alte é um bom exemplo de uma localidade do interior que merece a visita de todos, nacionais e estrangeiros, pela forma como se encontram preservados os seus traços mais típicos.

Faro é a capital do distrito e, por isso, a sua vocação é mais administrativa do que turística. No entanto, a cidade poderá aproveitar o facto de ter o aeroporto às suas portas para a valorização do seu turismo. Na ilha de Faro poderiam ser feitos investimentos turísticos, nomeadamente com a construção de hotéis de qualidade. Também a cidade poderia aproveitar o seu património histórico para fins turísticos, desde que praticasse uma política de recuperação de imóveis na sua parte velha e investisse na criação de zonas atractivas ao lazer, como parques e jardins. Sendo uma cidade universitária, Faro deveria investir na sua juventude, com o incentivo à investigação universitária e científica e a construção de recintos de exposição. A criação de salas de estudo e de centros de convívios para jovens, também deve ser uma obrigação da Câmara Municipal, com vista a atrair os jovens para o centro citado. Uma cidade jovem é uma cidade com futuro e potencial de investimento, inclusive em termos de turismo.

Olhão e Tavira têm um ponto de atracção turístico comum, que deve ser aproveitado em conjunto por ambas as autarquias, que é a Ria Formosa. O futuro turístico destas localidades depende da forma como é explorada esta riqueza natural para fins turísticos. Obviamente que, nestas localidades, a aposta no turismo nunca poderá ser de massas, mas de um turismo de qualidade. Um estudo sobre os melhores projectos para ambos os municípios deve ser feito com a preocupação da salvaguarda da qualidade ambiental. Está na hora de cada Município deixar de fazer uma gestão egocêntrica e em competição com os Municípios visinhos. Principalmente quando o objectivo é o de atracção turística, os projectos devem ser elaborados em conjunto e tendo em vista a melhoria das condições de vida de todos os cidadãos.

Vila Real de Santo António é a fronteira entre Portugal e Espanha. Quando a passagem entre as duas margens do Guadiana era feita por barco, a cidade aproveitou essa sua situação geográfica para a valorização do turismo. Hoje, com as margens ligadas por uma ponte, o número de turistas na cidade baixou e os seus rendimentos também. Uma aposta na publicidade da sua existência na fronteira e ainda em solo espanhol deve ser uma prioridade no investimento turístico. A valorização das suas praias, como a construção de bons acessos e de parques de estacionamento, deve ser um outro investimento. Não é fácil para uma localidade tão próxima de pontos de atracção turísticos espanhóis – visitados por inúmeros portugueses – competir em termos de turismo. Por isso o investimento deve ser maior e, se necessário, a competição deverá ser feita ao nível dos preços.

A serra tem sido o “parente pobre” em termos de investimento turístico e de desenvolvimento no Algarve. No entanto, por isso mesmo, é onde existe a possibilidade de se fazerem mais investimentos.

Alcoutim e Castro Marim, mostrando-se bem preservadas do ponto de vista histórico e arquitectónico, poderiam investir em conjunto na publicidade em termos turísticos. O turismo rural deve ser incentivado nestas localidades, de forma a cativar um turismo de maior qualidade. A construção de pousadas deve ser outra aposta, para a cativação dos turistas que gostam de avaliar os aspectos históricos e culturais dos diferentes países. Outra aposta destes Municípios do interior, deve ser o de complemento ao turismo que se faz no litoral. Procurar junto dos operadores turísticos a elaboração de pacotes de férias que contemplem uma noite em unidades hoteleiras a criar nesses concelhos deverá ser uma aposta das autarquias.

São Brás de Alportel tem uma beleza natural invejável, que deve ser aproveitada em termos turísticos. A sua aproximação a destinos turísticos de renome, que recebem um turismo de qualidade superior, deve ser aproveitada para a cativação desses turistas a uma visita a esse concelho.

Monchique é uma localidade que não tem aproveitado o seu potencial turístico. As suas termas são pouco conhecidas a nível nacional e, ainda mais, a nível internacional. A sua riqueza natural, onde se respira ar puro todo o ano e a vista deslumbrante sobre o Algarve que se tem da Fóia, são cartazes turísticos por si só, mas muito pouco aproveitados. Graças ao seu ambiente puro, poderia servir para albergar hospitais ou clinicas de recuperação para doentes e desportistas, nacionais e estrangeiros. Também esta localidade poderia investir mais na construção de unidades hoteleiras e negociar junto dos operadores turísticos pacotes de férias que englobassem uma ou duas noites nessa localidade, com visitas às termas e à Fóia e jantares em restaurantes típicos dessa zona. Um investimento suplementar na melhoria dos acessos, nomeadamente com o alargamento da estrada, poderia potenciar Monchique como destino turístico algarvio por excelência.

Aljezur é um Município pobre e pequeno, mas com belezas naturais inigualáveis no Algarve. A vista do seu castelo – a necessitar de uma recuperação urgente – é puramente deslumbrante e aconselhável a qualquer turista nacional ou estrangeiro. As suas praias na costa atlântica são de uma beleza impar e possibilitam a prática de desportos radicais. É para esse tipo de turismo que Aljezur se deve voltar. Um turismo jovem e aventureiro, com poucos recursos económicos, mas fiel ao seu desporto e ao local onde o mesmo poderá ser praticado com melhor qualidade. A divulgação das suas praias deve ser feita a nível nacional e internacional, investindo o concelho na construção de pousadas e residenciais mais baratas, mas com as necessárias condições. Também o turismo rural, poderá ser uma aposta na sua vertente mais serrana, desde que sejam arranjados os acessos rodoviários.

Para a valorização do Algarve ao nível turístico, mostra-se necessária e urgente a criação de um significativo conjunto de infraestruturas, sem as quais o desenvolvimento dos concelhos mais periféricos será sempre atrasado, com prejuízos para o todo nacional.

Ao nível dos transportes mostra-se necessário:

1. A construção de vias de comunicação que permitam a adequada deslocação intercidades e de acesso aos centros citadinos. As localidades do interior serrano (Aljezur, Monchique, Silves, Castro Marim e Alcoutim) têm vias de acesso com pavimentos em mau estado ou traçados estreitos e perigosos (no caso concreto de Monchique) e os caminhos que ligam as várias freguesias desses concelhos, em muitos casos, não convidam às deslocações turísticas, que poderiam ser melhor exploradas dadas as belezas naturais da serra.

2. A linha de comboio regional mantém-se inalterada desde a sua criação e, a avaliar pelo tempo que demora uma viagem entre Lagos e Vila Real de Santo António, há muito que parou no tempo. Toda a linha férrea algarvia necessita de uma reestruturação e modernização, de forma a que se torne viável a sua manutenção e possa ser um meio de transporte eficaz nas deslocações entre cidades, com viagens mais rápidas e confortáveis. O alargamento dos horários possibilitaria as deslocações de muitos turistas (e também residentes) entre as várias localidades, sem se terem que preocupar com os horários do regresso. Hoje, são poucos os utentes da CP no Algarve, mas essa situação deve-se mais à falta de modernização desse meio de transporte, do que à falta de potenciais utentes.

3. Os transportes públicos, além de escassos, não são confortáveis, mostrando-se a frota envelhecida e a freqüência de passagem pelas várias paragens bastante reduzida. Não compensa, nem aos cidadãos locais, nem aos turistas, a deslocação em transportes públicos, a menos que seja feita uma aposta no alargamento dos horários e na melhoria do conforto e da segurança nos transportes.

4. Um estudo independente sobre os acessos e o escoamento do trânsito nas várias localidades, que apontasse os seus pontos mais críticos e apresentasse soluções para a sua resolução, não concelho a concelho, mas em toda a região, só traria benefícios a médio e longo prazo.

5. Uma aposta que, apesar dos custos elevados, traria grandes vantagens a médio e longo prazo para a região e para o todo nacional, era a construção de um pequeno aeroporto na zona do Barlavento Algarvio. Não um aeroporto internacional com as dimensões do de Lisboa, Porto ou Faro, mas com as condições mínimas que possibilitassem a aterragem em segurança de aviões charter, pequenos jactos e aeronaves com um número mais elevado de passageiros. Esta medida possibilitaria um crescimento do número de vôos para o Algarve, com o necessário crescimento do número de turistas. Possibilitaria um melhor serviço na deslocação dos turistas entre a sua chegada à região e ao seu local de destino, aliviaria o tráfego automóvel à entrada da cidade de Faro e ao aeroporto e permitiria uma maior divulgação da sub-região do Barlavento a nível internacional.

6. O Algarve é um local de passagem de toda a uma frota marítima que pretende entrar ou sair do Mar Mediterrânico. Desde a antiguidade, essa sua situação periférica fez com que servisse de ponto obrigatório de paragens para comerciantes e mercadores, que aí faziam o seu comércio. Hoje, o país não tira qualquer proveito da situação geográfica desta região, permitindo que seja a Gibraltar e a costa sul de Espanha a servir como a primeira ou última paragem dos vários navios que entram ou saem do mediterrâneo. Em Portimão, foi feito o investimento numa alfândega e num porto que passou a ser menor utilizado agora do que antes da sua construção. A abertura dessa “fronteira” deve ser um objectivo nacional, com vista ao seu maior enriquecimento. A abertura do Arade a navios de carga, que façam do seu porto um local de embarque e de desembarque de mercadorias só serviria para melhorar a sua situação económica e a sua divulgação ao nível mundial. Também o aproveitamento do seu porto para a aportagem de navios de cruzeiros seria uma forma de aumentar o seu turismo e o seu volume de negócios, sendo certo, no entanto, que para tal mostra-se indispensável a criação de atractivos ao turismo, nomeadamente no que se refere à imagem e ambiente, ao comércio e aos serviços de restauração. O desassoreamento do rio Arade deve ser um projecto e um objectivo nacional, dirigido pelas entidades governamentais em estreita ligação com os Municípios. É urgente que o país explore todas as suas potencialidades de riqueza, não apenas a pensar no presente, mas nas gerações futuras.

Ao nível da iluminação:

1. Qualquer destino turístico necessita de muita luz. É a luz que incentiva as deslocações nocturnas, as idas aos restaurantes, bares e discotecas, as deslocações nos centros citadinos e as deslocações interlocalidades. O Algarve, como muitas outras regiões do país não tem apostado numa eficaz iluminação. A iluminação das ruas é uma prioridade turística, devendo ser dados apoios – e não cobradas taxas – para que os estabelecimentos comerciais coloquem reclamos luminosos a indicar a sua localização. Mais luz transmite uma maior sensação de segurança e possibilita uma melhor visita aos vários locais de interesse turístico.

2. A iluminação dos monumentos, edifícios históricos e locais de interesse público deverá ser outro investimento a levar a cabo pelas autarquias e pelas entidades que tenham a cargo a preservação e manutenção de tais locais. Essa medida permite chamar a atenção para a existência desses locais, torna-os mais atractivos e sinalizam a sua presença.

3. A iluminação das estradas é um investimento indispensável à melhoria do turismo. Não podemos esquecer que num local que pretende ser um destino turístico, a maioria dos condutores não conhece as estradas que, não estando iluminadas, aumenta a possibilidade de se perderem ou provocarem acidentes. As vias, na maioria dos casos, são estreitas e encontram-se em mau estado, pelo que a sua iluminação poderia evitar muitos acidentes.

Ao nível da recuperação e valorização do património:

1. A recuperação do património é indispensável para um turismo de qualidade. Ninguém gosta de ver um património histórico degradado. No entanto, de nada serve – em termos turísticos – recuperar o património se não for divulgada a sua localização, não existirem acessos condignos e locais de estacionamento, ou o seu acesso estiver vedado ao público. A recuperação do património histórico, arquitectónico e cultural, deve ser acompanhado de um trabalho de valorização das suas zonas envolventes e da sua utilização para visitas públicas.

2. Em muitos casos, os monumentos e locais de interesse público não são devidamente valorizados. Primeiro porque muitos deles – principalmente os edifícios religiosos – encontram-se sempre fechados e em segundo lugar porque aqueles que estão abertos ao público têm horários de visita reduzidos. Um turista que faz férias no Verão, com o objectivo de ir à praia, não visitará um monumento durante o dia e, à noite, quando pretende visitá-lo, está encerrado ao público. Um alargamento dos horários de visita aos museus e monumentos, deverá ser alargado, principalmente no Verão, quando o número de turistas aumenta consideravelmente.

Ao nível da utilização de monumentos religiosos para atracção turística:

1. São centenas as igrejas e locais de culto religioso no Algarve – e um pouco por todo o país – que se encontram completamente encerradas ao público e onde não é feito qualquer serviço religioso. É uma grande parte do património cultural português que está privado da admiração por parte de todos os cidadãos, nacionais ou estrangeiros. A sua abertura para fins turísticos impõe-se como uma prioridade nacional. É inadmissível que os panfletos publicitários e turísticos de uma determinada localidade contenham fotos de igrejas com uma riqueza inquestionável e que, depois, quando os visitantes se dirigem a elas para uma visita, as encontrem invariavelmente fechadas. Esses são locais de culto, que pertencem à Igreja e que têm um fim religioso. No entanto, não poderemos esquecer que, além do seu peso religioso, contêm um peso histórico e cultural que faz parte da sociedade portuguesa e que, na base da sua construção, está o dinheiro, o sacrifício e o suor dos nossos antepassados. Se deixaram de servir para o culto – uma vez que estão encerradas – devem passar a servir um objectivo nacional que é o da divulgação e valorização da sua cultura. A negociação entre o Estado e a Igreja, com vista à resolução desse grave problema nacional deve ser feita com carácter prioritário, estudando-se as várias soluções.

2. Uma forma de resolução para este problema poderá passar pela utilização de desempregados e beneficiários do rendimento mínimo – ver capítulo do emprego – para a sua abertura e vigilância, bem como a utilização de indivíduos que se encontram inactivos, mas com lucidez e capacidade de trabalho suficientes para zelarem pelo funcionamento desses edifícios, atribuindo-se uma remuneração simbólica ou, em alternativa, recebendo como remuneração as gratificações deixadas pelos visitantes.

Ao nível dos espaços verdes:

1. A preservação do ambiente começa a fazer parte do objectivo de cada individuo enquanto cidadão. Hoje as pessoas sentem-se bem quando visitam o centro histórico de uma cidade e encontram jardins, arvores plantadas nos passeios, vasos com flores ou canteiros arranjados. Investir em espaços verdes é uma obrigação das autarquias, que não deve ser descorada.

2. O arranjo das bermas das estradas, principalmente à entrada das localidades, criando-se espaços verdes atractivos, deverá ser uma aposta turística de todos os Municípios.

Temos assim que um melhor turismo para o Algarve é possível, desde que sejam realizados investimentos com esse objectivo. No fundo, o que acontece com o Algarve, é o mesmo que acontece com o resto do território continental. O interior, com as suas aldeias históricas, muitas delas abandonadas, poderia apostar na sua recuperação e na melhoria dos seus acessos para a implementação do turismo. A Serra da Estrela, bastante conhecida a nível nacional, não é devidamente publicitada além fronteiras, principalmente entre os apaixonados pelos desportos na neve. Um pouco por todo o país, o património histórico não está recuperado, não é publicitado, ou não está aberto ao publico. A falta de iluminação das estradas é uma constante em todo o país e a fraca iluminação das ruas caracteriza os centros urbanos. Portugal precisa de investir numa eficaz rede de transportes, com a construção de aeroportos, portos, linhas férreas e melhores estradas. Só assim poderá ser um país virado para um turismo que se quer de qualidade.

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